espelho

de lado

de costas

de cabeça pra baixo
de frente

pinto o que vejo

de vermelho

laranja

azul

amarelo

dourado

dou risadas
faço caretas
abro a boca

fecho os olhos

vejo sempre de frente

o espelho mostra de verdade

flores e dores

se não agrado

invento outras cores

e danço com o tempo

a música do vento

solitude

coleciono silêncios

eles sempre têm algo a dizer

sou feliz

vivo inventando motivos
pra que o encanto
nunca termine
participo de passeata com pássaros gigantes
árvores criando pés e bocas
sorrindo sem parar
livros que cantam
e só param numa cachoeira de brigadeiro
estrelas dançando no céu
formando uma orquestra
numa música doce e afinada
nesta noite pegaria a lua com a mão
ia embora pra lá e plantaria um jardim de girassóis

depois volto à rotina

e lembro que sou feliz

nossa noite

não que eu tenha medo de escuro
de monstros embaixo da cama

nada disso

mas me acostumei a dormir com você

e custo a dormir quando não tenho

o teu respirar ao meu lado

como se tua respiração

me servisse de música de ninar

basta o teu cheiro

impregnado no silêncio da nossa noite

soltura

encha o peito com muitos suspiros

quando estiver bem levinho

solte as amarras

e flutue

chão pra pouso

amor se vive, respira, dobra
molha, seca, dorme, acorda
largando sereno
amor vem da parte mais difícil
e perdura
fica verde depois das tempestades
é coisa que arrebata, derruba
vira chão pra pouso, ar pra respirar
água pra beber
é delicadeza violenta
faz doer, grita
e depois sorri

amor vem de amor
faz a gente viver

e sorrir de novo